Prezados amigos e amigas,

O presente Blog, tem a finalidade de ser mais um instrumento de valorização da família.
Por isso trará sempre artigos relacionados a esse tema, abordando os diversos aspectos que envolvem a formação de uma família sadia e segundo os preceitos cristãos, além de enfocar os diversos aspectos do relacionamento familiar.
Esperamos assim, que possa servir como um meio de reflexão, ajuda e fortalecimento àquelas famílias que encontram-se em situação difícil.

Que Deus nos ajude nessa empreitada.

Pedimos ainda que a Sagrada Família abençoe e proteja a todas as famílias do mundo inteiro. Amém !

José Vicente Ucha Campos
jvucampos@gmail.com

sábado, 22 de janeiro de 2011

FAMÍLIA ATUAL, UMA MUTAÇÃO ANTROPOLÓGICA ?

Em poucas décadas, sob o efeito de diversos fatores convergentes, tais como a revolução sexual, a difusão da cultura de massa e a influência dos meios de comunicação social, as possibilidades oferecidas pela manipulação genética, as mudanças na organização da produção, com o advento da informatização e a automação dos processos produtivos e com a prevalência no mercado do capital especulativo “volátil”, de alta rentabilidade, configurou-se um cenário cultural e social no qual floresce uma imagem de homem e de mulher radicalmente diferentes dos anteriores. Alguns autores falam de uma “mutação antropológica” (Scola, 1999, p.316), isto é, de uma visão alternativa e global do homem e de todos os aspectos mais profundos da sua existência.

A mudança que atinge a maneira de compreender o ser humano constitui um processo complexo, do qual são indicadas algumas etapas mais significativas. Começa a prevalecer um dualismo antropológico que separa como mundos distintos o corpo e o espírito. O corpo passa a ser considerado como um material bruto, sem significado pessoal intrínseco e dominado pelo determinismo das leis biológicas e psicológicas. O espírito, representando o mundo da liberdade, da busca da paz interior, da integração cósmica e da elevação mística, estaria justaposto ao corpo, seguindo suas próprias exigências. A mudança mais relevante se verifica no campo da sexualidade que, na nova perspectiva, pode ser vivida sem a abertura à procriação. Este fato retira da sexualidade a característica de ser premissa para constituir uma relação de responsabilidade recíproca, que dure no tempo, capaz de acolher e educar a eventual prole. O exercício da sexualidade perde a exigência de um vínculo estável, em vista de um projeto comum de vida, enquanto conserva o caráter de fonte de prazer. O aspecto lúdico, sempre presente na expressão da sexualidade, acaba por ser a única dimensão que define seu valor, eliminando qualquer responsabilidade da pessoa com o parceiro dos jogos sexuais.

Nesse quadro, o matrimônio e a família perdem significado. Diversas agências da ONU tornaram-se caixas de ressonância dessa mentalidade e, nas Conferências de Cairo e de Pequim, defenderam novos direitos, mais condizentes com a emergente imagem de homem e de mulher, de sexualidade e de maternidade. Os “novos direitos”, no entanto, que são defendidos como sinal de uma maior liberdade (ao aborto, à eutanásia, etc.), constituem na realidade a mais sutil submissão à lógica do mercado, que coloniza todos os espaços da vida, difundindo seus critérios contábeis, de cálculo, de conveniência, do intercâmbio de equivalentes, emergindo como critério fundamental para a tomada das decisões a avaliação de custos e de benefícios (PETRINI, 2000).

A divergência da antropologia, até então aceita, pode ser percebida pelo relatório de Monsenhor Renato Martino, observador do Vaticano junto à ONU: “O princípio de que a sexualidade é inerente à relação conjugal foi tratado nas Conferências do Cairo e de Pequim como uma inútil relíquia do passado. [...] Também a sacralidade da vida foi posta em ridículo e ofendida” (MARTINO, 1997, p.76).

A procriação também pode ser realizada sem o concurso da união sexual sendo, assim, assemelhada à produção de uma mercadoria. Com efeito, a fecundação pode ser obtida através de técnicas de laboratório, não sendo mais necessária a relação sexual. Com o desenvolvimento da clonagem, não será necessário nem mesmo o concurso de um elemento masculino e um feminino. A procriação pode acontecer fora do ambiente da intimidade sexual entre um homem e uma mulher, vivida como expressão do amor, assumindo todas as características de uma produção industrial.

A vida humana não mais é compreendida como relação com o Infinito e por isso inviolável, inegociável. A vida e a morte passam a ser negociadas politicamente e submetidas à aprovação da maioria ou ao arbítrio do indivíduo. A vida humana que começa e a que termina, dentro dessa visão, podem ser suprimidas, sempre que os interesses em jogo assim o preferirem. O embrião não passa de aglomerado de células, podendo ser submetido a qualquer tipo de manipulação. O corpo reduz-se a instrumento de trabalho e de lazer, perdendo outras dimensões.

Diante desse novo cenário desenhado pela cultura pós-moderna, o Papa manifestou muitas vezes sua preocupação, convidando cristãos e “homens de boa vontade” a retomar o desígnio de Deus sobre a pessoa, o matrimônio e a família, para participar do debate em curso, tendo como ponto de partida a visão cristã do ser humano na sua versão mais original. No “Evangelium Vitae” n. 28, ele afirma:

Encontramo-nos diante de uma batalha gigantesca e dramática entre [...] a morte e a vida, entre a cultura da morte e a cultura da vida. Encontramo-nos não apenas “diante”, mas necessariamente no meio desse conflito: todos estamos envolvidos e tomamos parte nele, com ineludível responsabilidade para decidir incondicionalmente em favor da vida (JOÃO PAULO II, 1995, p.57).

O desígnio de Deus sobre a pessoa, o matrimônio e a família

O Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família vem trabalhando, há mais de vinte anos, para compreender essas mudanças e para elaborar uma antropologia adequada às exigências humanas originárias, tendo em vista o diálogo com quantos estão atentos à evolução sociocultural. De modo sucinto, são indicados, a seguir, alguns dos temas mais significativos que vão construindo essa nova perspectiva de reflexão (A BÍBLIA de Jerusalém, 1981, p.34).

O objetivo principal é elucidar o desígnio de Deus sobre a pessoa, o matrimônio e a família, tomando como ponto de partida a narrativa da criação, do livro do Gênesis. Esse relato, de um lado, valoriza a relação do ser humano com o Criador, do qual é imagem e semelhança e, de outro, valoriza a diferença sexual como originária, pois “homem e mulher o criou”(Gn 1, 27). Estão assim articuladas e integradas a dimensão espiritual e a corporal do ser humano, que se afirma como uma união indissolúvel de corpo e de alma (corpore et anima unus). A inquietação relacionada ao desejo de infinito e a busca da felicidade que caracterizam o ser humano de todas as épocas, como a poesia e a arte documentam amplamente, podem ser levadas a sério, abrindo o espaço para a transcendência.

Nesse quadro de referência ao corpo (e à diferença sexual que o caracteriza) é atribuído um significado simbólico, com valor de sinal e expressão da pessoa. Esta é reconhecida como um ser consciente, racional e livre, que traz em si uma vocação originária ao amor, fundamento da dimensão social do ser humano. Com efeito, só na companhia de seus semelhantes ela encontra as condições necessárias para o seu desenvolvimento e para a sua realização, a começar pelo matrimônio e pela família. A pessoa, assim compreendida, é sujeito de uma dignidade absoluta, que não depende de nenhuma qualificação e possui direitos inalienáveis e deveres morais que a colocam como razão de ser de todas as instituições sociais, políticas e econômicas. É apenas o caso de lembrar que é impossível construir a realidade social como ordem, na liberdade e na justiça, quando esses direitos inalienáveis são conduzidos no horizonte do mercado, negociados de acordo com interesses de grupos.

Os estudos teológicos do Instituto estabelecem um nexo entre a revelação divina e a experiência humana que contribui para a renovação de um horizonte metafísico de tipo existencial. Abre-se, dessa maneira, a possibilidade de percorrer um itinerário, antes impraticável, para falar da pessoa, da sua liberdade, da comunhão interpessoal, em analogia com as relações intratrinitárias e do amor esponsal como dom de si no corpo, à imitação de Jesus Cristo que se doou no corpo para a vida do ser humano.

a) Homem e mulher - A diferença sexual introduz o ser humano na consciência de uma deficiência e de uma solidão originárias, na evidência de uma fragilidade radical que poderia desembocar na extinção da própria espécie. Estes limites o impelem à busca e ao conhecimento do outro de si, do diferente, para o qual sente-se atraído e junto do qual pode enfrentar positivamente seus limites. A consciência de si, da própria identidade, nasce do encontro com o outro, que se realiza através do corpo, sexualmente diferenciado. A autoconsciência nasce da reflexão sobre a experiência que pessoalmente cada ser humano faz de si e dos relacionamentos que estabelece com toda a realidade e com o outro sexo. Deficiência, solidão e fragilidade são insuperáveis sem o concurso do outro, que começa a ser percebido como possibilidade de resposta, de solução ao próprio drama. Nesta perspectiva, a sexualidade emerge como condição, como fator fundamental da própria identidade de ser humano.

O ser humano não pode existir sozinho, mas somente como unidade de dois e, portanto, em relação com uma outra pessoa. A diferença homem-mulher é compreendida, então, como a expressão de uma originária unidade dual que implica e valoriza simultaneamente a identidade e a diferença. A mesma dignidade e os mesmos direitos qualificam a identidade do ser humano que aparece na história sempre e somente como homem e mulher, mesmo quando essas categorias parecem culturalmente confusas.

Para compreender o significado da sexualidade humana é necessário, antes de mais nada, deixar falar o dado, ao mesmo tempo fenomenológico e ontológico, que nenhum homem (ou nenhuma mulher) pode ser por si só todo o ser humano: ele tem sempre diante de si a outra maneira de ser, a ele inacessível. Uma alteridade que é diferença distingue o homem a causa de sua natureza sexuada. Também sob este aspecto, manifesta-se inevitavelmente sua contingência (SCOLA 2002, p.32).

A diferença sexual é originária, constitutiva do ser humano, essencial à sobrevivência da espécie, inscrita em cada cromossomo. Ela foi elaborada culturalmente ao longo das gerações, quase sempre em função do jogo de poder entre os sexos. As imagens e os modelos de comportamento masculino e feminino, fruto de circunstâncias históricas determinadas, podem ser colocados em discussão, como de fato está acontecendo, em busca de uma maior correspondência com as exigências de igualdade e de participação. As relações entre os sexos constituem, neste sentido, um interessante entrelaçamento de natureza e cultura.

b) Antropologia dramática - Esta compreensão do ser humano na sua corporeidade sexuada situa-se no horizonte da antropologia dramática. Afirma Von Balthassar, (1992, p.317): “[...] não existe outra antropologia a não ser aquela dramática”. O drama nasce do fato de que o ser humano se move na cena do mundo sobre a qual deve representar a sua parte. Todavia ele compreende que deriva de um primeiro ato não escrito por ele e do qual não participou e se move em direção ao último ato, do qual não conhece o script, não sabendo como terminará. Quando reflete sobre si mesmo, o sujeito individual encontra-se já em ação na cena do grande teatro do mundo. Ele não escolheu começar a existir, no entanto, encontra-se na situação de ter que escolher para edificar uma existência que busca inevitavelmente a sua realização. Como a linha do horizonte, a realização da própria humanidade parece afastar-se quanto mais procura aproximar-se dela (SCOLA, MARENGO e LÓPES, 2000, p.59-60). Move-se na cena do mundo, devendo escolher entre uma ampla gama de possibilidades. “Talvez não há outro ser vivente a tal ponto dilacerado entre alternativas” (STEINBECK apud BALTHASSAR, 1992, p.320). “[...] não pode sair do curso da ação dramática na qual se encontra desde o nascimento, não pode sair para finalmente ponderar sobre o que jogar. Ele já está no jogo sem que alguém jamais tenha perguntado a ele se quer jogar; já recita de fato uma parte, mas qual?” (BALTHASSAR, 1992, p.323).

A unidade dual de homem-mulher, alma-corpo, indivíduo-comunidade, está na origem do drama humano, com efeito, subtrai a pessoa ao determinismo biológico e chama em causa a sua liberdade como último ponto de definição da autoconsciência. A filosofia e a literatura documentam este drama, expresso com diversidade de acentos ao longo dos séculos. Na cultura pós-moderna, no entanto, assume especial importância o esforço para negar o drama, procurando eliminar as perguntas que o alimentam. (BALTHASSAR, 1992, p.335-370).

c) O Mistério nupcial - Mistério nupcial é um dos conceitos mais importantes elaborado pelos teólogos da sede central do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família. Retomando uma antiqüissima tradição, já do Antigo Testamento, o conceito indica não somente a relação nupcial entre um homem e uma mulher, mas, por analogia, a Aliança entre Deus e o povo eleito. Por mistério nupcial, entende-se:

[...] de um lado a unidade orgânica de diferença sexual, amor (relação objetiva com o outro) e fecundidade, de outro, refere-se objetivamente, em virtude do princípio da analogia, às diversas formas do amor, que caracterizam quer o homem-mulher com todos os seus derivados (paternidade, maternidade, fraternidade, sororidade, etc.), quer a relação de Deus com o homem no sacramento, na Igreja, em Jesus Cristo, para chegar até a Trindade mesma (SCOLA, 1998/2000).

Deixando a outros a tarefa de desenvolver os aspectos especificamente teológicos, pode-se compreender o coração da nupcialidade, como a unidade de amor, sexualidade e procriação. Aqui está a originalidade do conceito, que apreende sinteticamente aspectos antropológicos fundamentais, resgatando a unidade que, desde os primórdios da história até poucas décadas atrás, constituiu o eixo da relação homem-mulher, ao redor do qual organizaram-se o matrimônio e a família e, como conseqüência, relações de cooperação e de solidariedade entre os sexos e entre as gerações. Na diversidade das formas que estas realidades assumiram e no meio de contradições que se verificaram, a nupcialidade sempre permaneceu como o núcleo central ao qual se deve atribuir a origem de dinâmicas sociais que desenharam as diversas civilizações.

Na sua acepção mais simples, nupcialidade indica uma relação entre um homem e uma mulher caracterizada por uma certa qualidade. Refere-se à elaboração de um projeto de vida comum que contém, em seu horizonte, a possibilidade de procriar filhos, de acolhê-los e educá-los. A simpatia e a atração entre um homem e uma mulher, que encontram na relação sexual a expressão mais plena, se orientam para a partilha estável da globalidade da existência, a ponto de constituir um casal socialmente reconhecido, caracterizado pela comunhão de habitação, de tarefas, de recursos, em vista da edificação de uma realidade comum, que encontra no matrimônio e na família a sua plena realização. Viver a paternidade e a maternidade no horizonte da nupcialidade, aceitando o empenho de educar a prole, produz mudanças relevantes não apenas na identidade das pessoas envolvidas e nas responsabilidades assumidas, com alterações significativas na organização quotidiana da existência, mas também na sociedade. A rede de relações familiares assim constituída cria espaços de gratuidade e de solidariedade entre os sexos e entre as gerações. E no tecido fino destas relações são transmitidos e consolidados valores, critérios de juízo, crenças, ideais, atitudes, que tornam a vida em sociedade mais ou menos civilizada.

O conceito de nupcialidade indica não apenas um certo tipo de relação homem-mulher, caracterizado pelo envolvimento e pelo dom recíproco de si, pela atenção ao destino do outro mais que ao próprio interesse. Indica também uma postura diante de toda a realidade, uma atitude humana carregada de afeição, atenta para aceitar e valorizar a alteridade, a diferença. Nasce, assim, um modo de relacionar-se com as pessoas, com a natureza e com o mundo dos objetos, compreendendo cada realidade no horizonte de totalidade da qual recebe significado. A nupcialidade sugere um olhar positivo sobre a realidade, capaz de reconhecer a finalidade do objeto, por exemplo, de um rio, de um bosque, de um animal, para além do interesse imediato que mede a sua utilidade. São Francisco de Assis, no seu Cântico das Criaturas, dirige um olhar nupcial sobre todas as criaturas, até mesmo sobre a realidade da morte, desejoso de admirar, acolher, respeitar. No pólo oposto à nupcialidade, situa-se a relação ocasional entre o homem e a mulher, no exercício de uma sexualidade que reduz ao mínimo os vínculos inerentes ao relacionamento. A cultura atual valoriza modelos de relacionamentos caracterizados pela parcialidade, que se limitam a aspectos particulares e envolvem interesses determinados, para um tempo limitado, em vista da maior utilidade.

Na cultura contemporânea, não será um conjunto de circunstâncias biológicas, técnicas e culturais que poderão induzir as pessoas a viver a sexualidade no horizonte do amor nupcial, como pode ter acontecido no passado. A nupcialidade, entendida como união de amor, sexualidade e procriação, poderá ser vivida somente como conseqüência de uma livre decisão, que nasce da compreensão da sua importância para a própria realização.

Por Dom João Carlos Petrini
Bispo Auxiliar de Salvador
Diretor do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

FAMÍLIA, FONTE DE SANTIDADE

Deus nos criou para vivermos em família, como Ele mesmo é uma Família, Três Pessoas distintas em uma única natureza. Quando o Catecismo fala da família, começa dizendo que: Jesus, ao vir ao mundo, não precisava necessariamente viver em uma família, mas Ele assim o quis, para deixar-nos o seu exemplo e ensinamento sobre a nobreza e santidade da família. Quis ter uma mãe e um pai (adotivo), e foi obediente e submisso a eles (cf Lc 2,51). Jesus não precisava ter um pai terreno, já que o Seu Pai é o próprio Deus. Mas Ele quis ter um pai adotivo, legal, como chamavam os judeus. Quando José quis abandonar Maria, em silêncio, para não difamá-la, Deus mandou o Anjo dizer-lhe: “José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois, o que nela foi concebido veio do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho a quem tu porás o nome de Jesus” (Mt 1,20-21). É como se Deus dissesse a José: eu preciso de você, eu quero você para ser o pai diligente da sagrada Família. Os pais geram os filhos, mais aqui é o Filho quem escolhe o seu pai.

A Família de Nazaré nos dá uma lição de vida familiar. Como disse Paulo VI: “Que Nazaré nos ensine o que é família, sua comunhão de amor, sua beleza austera e simples, seu cárater sagrado e inviolável… Uma lição de trabalho…” (05/01/64). A família é uma escola de virtude e de santidade para todos. Vivendo na família de Nazaré, Jesus nos ensinou a importância da submissão e obediência dos filhos aos pais. Ele, mesmo sendo Deus, se fez obediente àqueles que Ele mesmo criou e escolheu para seus pais. Cumpriu em tudo o quarto mandamento que manda “honrar” os pais. Mais do que ninguém obedeceu à Palavra de Deus que diz:
“Quem honra sua mãe é semelhante àquele que acumula um tesouro”. “Quem teme o Senhor honra pai e mãe” (Eclo 3).

É porque a família é hoje tão ofendida pelas pragas da imoralidade, que a sociedade paga um alto preço social: jovens deliquentes, crianças abandonadas, pais separados, homens e mulheres frustrados, tanta violência, tanto crime, tanta morte…

Essas pobres crianças e jovens desorientados, que vivem pelas ruas, perdendo-se nas drogas, no crime, na violência, na homossexualidade e nas bebidas, etc., apenas estão buscando com isso um pouco de calor humano, afeto, que deveriam ter recebido em suas famílias, e não receberam.

O Catecismo diz que a família “é a sociedade natural onde o homem e a mulher são chamados ao dom de si no amor e no dom da vida. A família é a comunidade na qual, desde a infância, se podem assimilar os valores morais, em que se pode começar a honrar a Deus e a usar corretamente a liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade” (nº 2207).

“É no seio da família que os pais são para os filhos, pela palavra e pelo exemplo… os primeiros mestres da fé”, ensina a Igreja (LG, 11). “É na família que se exerce de modo privilegiado o sacerdócio batismal do pai de família, da mãe, dos filhos, de todos os membros da família, na recepção dos sacramentos, na oração e na ação de graças, no testemunho de uma vida santa, na abnegação e na caridade ativa. O lar é assim a primeira escola de vida cristã e uma escola de enriquecimento humano. É ai que se aprende a fadiga e a alegria do trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso e mesmo reiterado, e sobretudo o culto divino pela oração e oferenda de sua vida” (Cat. § 1657).

Essas palavras do Catecismo mostram que o lar é a escola das virtudes humanas; logo, lugar de santificação. Para os pais, a vida conjugal é uma oportunidade riquíssima de santificação, na medida em que, a todo instante, precisam lutar contra o próprio egoísmo, soberba, orgulho, desejo de dominação, etc., para se tornar, com o outro, aquilo que é o sentido do matrimônio: “uma só carne”, uma só vida, sem divisões, mentiras, fingimentos, tapeações, birras, azedumes, mau-humor, reclamações, lamúrias, etc.

A luta diária e constante para ser “exemplo para os filhos”, para manter a fidelidade ao outro, para “vencer-se a si mesmo”, a fim de se construir um lar maduro e santo, faz com que caminhemos para a na nossa santificação. O amor do casal é o sinal e o símbolo do amor de Deus à humanidade, e amor de Cristo à Igreja (cf. Ef 5,21s). Ao se por a caminho para conquistar “esse amor”, o casal se santifica.

A busca da unidade profunda como a do “café com o leite”, o desafio de “construir o outro”, alguém querido, a solução conjunta de todos os problemas, o diálogo frequente e amoroso, o respeito mútuo, enfim, a busca da maturidade essencial para a vida a dois, tudo isso santifica o casal. Além do mais, o conhecimento profundo do “mistério do outro”, a luta para aceitá-lo e entendê-lo, para ajudá-lo a crescer, a paciência, o perdão dado, as renúncias de cada dia, a atenção com o outro para vencer a frieza e a monotonia, o cuidado do lar, da roupa, da comida, do estudo dos filhos, etc., tudo isso concorre para que os pais se santifiquem mutuamente. Deus quis assim, e fez do casamento uma grande escola de santidade. O casal que quiser atingir a perfeição matrimonial, como é o desígnio de Deus, naturalmente chegará à santidade. A casa é para o casal e os filhos, o que o mosteiro é para o monge.

A luta que travamos conosco mesmo para aceitar e suportar os defeitos do outro, a cada dia, com paciência e compreensão, faz-nos santos. As cruzes do lar, o desemprego, as doenças, as dúvidas, os vícios do cônjuge, a dificuldade com os parentes, a preocupação com os problemas dos filhos, etc., tudo isso, torna-se no casamento como que o “fogo” que queima as ervas daninhas de nossa alma e nos encaminha para a perfeição cristã.

É preciso saber aproveitar toda e qualquer dificuldade do lar para fazer dela um degrau de crescimento na fé e no amor a Deus, pois “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rom 8,28).

Por outro lado, a enorme tarefa que Deus confia aos pais, na geração e na educação dos filhos, o exercício dessa missão sagrada coopera para a santificação deles. O Catecismo diz que:

“O papel dos pais na educação dos filhos é tão importante que é quase impossível substituí-los”. E que:“O direito e o dever de educação são primordiais e inalienáveis para os pais” (nº 2221; FC 36). Para cumprir com responsabilidade essa sagrada missão, os pais devem criar um lar tranquilo para os filhos, onde se cultive a ternura, o perdão, o respeito, a fidelidade e o serviço desinteressado. Aí deve ser cultivado a abnegação, o reto juízo, o domínio de si, para que haja verdadeira liberdade.

Diz o livro do Eclesiástico: “Aquele que ama o filho castiga-o com frequência; aquele que educa o seu fiho terá motivo de satisfação” (Eclo 30, 1-2). Esse “castiga-o com frequência” deve ser entendido como “corrige-o com frequência”. Mas São Paulo lembra que os pais não podem humilhar e magoar os filhos ao corrigí-los: “E vós, pais, não deis a vossos filhos motivo de revolta contra vós, mas criai-os na disciplina e na correção do Senhor” (Ef 6,4).

É claro que esse equilíbrio e dedicação que é exigido dos pais para educar bem os filhos, é motivo também de crescimento para os próprios pais. E é bom lembrar aos pais que saber reconhecer diante dos filhos, os próprios defeitos, não é humilhação e sim coerência, e isto facilita guiá-los e corrigi-los, como ensina o próprio Catecismo (nº 2223).

“Os filhos, diz o Catecismo, por sua vez, contribuem para o crescimento de seus pais em santidade. Todos e cada um se darão generosamente e sem se cansarem o perdão mútuo exigido pelas ofensas, as rixas, as injustiças e os abandonos. Sugere-o a mútua afeição. Exige-o a caridade de Cristo” (§ 2227; Mt 18,21-22).

Para os filhos, o dever de honrar os pais, estabelece um verdadeiro programa de santificação. Lembra a Palavra de Deus aos filhos: “Honra teu pai de todo o coração e não esqueças as dores de tua mãe. Lembra-te que fostes gerado por eles. O que lhes darás pelo que te deram? (Eclo 7,27-28).

Um filho sábio escuta a disciplina do pai e o zombador não escuta a reprimenda” (Pr 13,1). “Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, pois isso é agradável ao Senhor” (Cl 3,20; Ef 6,1).

“Aquele que respeita o pai obtém o perdão dos pecados, o que honra a sua mãe é como quem ajunta um tesouro. Aquele que respeita o pai encontrará alegria nos filhos e no dia de sua oração será atendido” (Eclo 3,2-6). “Honra teu pai por teus atos, tuas palavras, tua paciência, a fim de que ele te dê a sua benção, e que esta permaneça em ti até o último dia da tua vida.”

A benção paterna fortalece a casa de seus filhos; a maldição de uma mãe a arrasa até os alicerces” (9-11). Um filho abençoado pelos pais é um filho abençoado pelo próprio Deus, porque “a paternidade humana tem a sua fonte na paternidade divina” (CIC nº 2214). Vemos assim que Deus estabeleceu a família como o meio privilegiado para a nossa salvação e santificação, tanto dos pais quanto dos filhos.

Artigo publicado pelo professor Felipe Aquino em 27 de outubro de 2010, no Blog: http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/category/familia/

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

NENHUM SUCESSO NA VIDA COMPENSA UM FRACASSO NO LAR

Há vinte anos presenciei uma cena que modificou radicalmente minha vida. Foi num almoço com um empresário respeitado e bem mais velho que eu. Ele era um dos poucos engajados no social, embora fosse pessoalmente um workaholic.
O encontro foi na própria empresa, ele não tinha tempo para almoçar com a família em casa nem com os amigos num restaurante. Os amigos tinham de ir até ele.
Seus olhos estavam estranhos, achei até que vi uma lágrima no olho esquerdo. Bobagem minha pensei, homens não choram, especialmente na frente de outros.
Mas durante a sobremesa ele começou a chorar copiosamente. Fiquei imaginando o que eu poderia ter dito de errado. Supus que ele tivesse lembrado dos impostos pagos no dia, impostos que ele sabia que nunca seriam usados para o social.
"Minha filha vai se casar amanhã", disse sem jeito, "e só agora a ficha caiu. Eu fui um tremendo de um workaholic e agora percebo que mal a conheci. Conheço tudo sobre meu negócio, mal conheço minha própria filha. Dediquei todo o tempo a minha empresa e me esqueci de me dedicar à família."
Voltei para casa arrasado. Por meses eu me lembrava dessa cena patética e sonhava com ela. Prometi a mim mesmo e a minha esposa que nunca aceitaria seguir uma carreira assim.
Colocar a família em primeiro lugar não é uma proposição ética tão óbvia, trivial, nem tão aceita por aí. Basta entrar na internet e você encontrará milhares de artigos que lhe dirão para colocar em primeiro lugar os outros - a sociedade, os amigos, o dever, o trabalho, o cliente, raramente a família.
Normalmente, a grande discussão é como conciliar o conflito entre trabalho e família, e a saída salomônica é afirmar que dá para fazer ambos. Será?
O cinema americano vive mostrando o clichê do executivo atarefado que não consegue chegar a tempo à peça de teatro da filha ou ao campeonato mirim de seu filho. Ele se atrasou justamente porque tentou "conciliar" trabalho e família. Só que surgiu um imprevisto de última hora, e a cena termina com o pai contando uma mentira ou dando uma desculpa esfarrapada.
Se tivesse colocado a família em primeiro lugar, esse executivo teria chegado a tempo, teria levado pessoalmente a criança ao evento, teria dado a ela o suporte psicológico necessário nos momentos de angústia que antecedem um teatro ou um jogo.
A questão é justamente essa. Se você, como eu e a grande maioria das pessoas, tem de "conciliar" família com amigos, trabalho, carreira ou política, é imprescindível determinar, muito antes das inevitáveis crises, quem você prioriza e coloca em primeiro lugar. Você não terá de tomar difíceis decisões de lealdade na última hora, pois a opção já terá sido previamente discutida e emocionalmente internalizada.
Na época pensava deixar de ser professor da USP, apesar do ambiente tranqüilo e dos três meses de férias que a carreira proporcionava. Mas aquele almoço me fez ficar, para desespero de meus alunos.
Colocar a família em primeiro lugar tem um custo com o qual nem todos podem arcar. Implica menos dinheiro, fama e projeção social. Muitos de seus amigos poderão ficar ricos, mais famosos que você e um dia olhá-lo com desdém. Nessas horas, o consolo é lembrar um velho ditado que define bem por que priorizar a família vale a pena: "Nenhum sucesso na vida compensa um fracasso no lar".
Qual o verdadeiro "sucesso" de ter um filho drogado por falta de atenção, carinho e tempo para ouvi-lo no dia a dia? De que adianta fazer uma fortuna para ter de dividi-la pela metade num ruinoso divórcio e pagar pensão à ex-esposa para o resto da vida? De que adianta ser um executivo bem-sucedido e depois chorar na sobremesa porque não conheceu sequer a própria filha?

Os leitores que ficaram indignados porque não tiro férias podem ficar tranqüilos. Eu só não tiro férias aqui da Veja, como a maioria dos colunistas.
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Por Stephen Kanitz
Stephen Kanitz é administrador.
Artigo Publicado na Revista Veja, edição 1739, ano 35, nº 7, 20 de fevereiro de 2002, página 26.
Fonte: www.kanitz.com.br 

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A FAMÍLIA: FORMADORA DOS VALORES HUMANOS E CRISTÃOS

Um dos principais desafios que a família cristã enfrenta é o de formar a consciência moral dos filhos, numa época na qual os valores morais vão sendo diluídos. Isto torna muito mais importante do que nunca que os filhos sejam educados no amor à verdade objetiva - baseada na natureza humana e na lei revelada -, à justiça, à caridade e à pureza de corpo e de alma.
Dificilmente os mais jovens saberão resistir à onda hedonista e relativista sem o aprendizado em família, o exemplo e o apoio dos pais. Urge, portanto, recolocar a família em seu devido contexto, como lugar principal e privilegiado de formação e educação, transmissora das virtudes e valores.
A Exortação Apostólica Familiaris Consortio faz referência ao ensinamento de São Tomás de Aquino, para ressaltar a alta missão dos pais a esse propósito. "O dever educativo recebe do sacramento do matrimônio a dignidade e a vocação de ser um verdadeiro e próprio ‘ministério' da Igreja a serviço da edificação dos seus membros. Tal é a grandeza e o esplendor do ministério educativo dos pais cristãos, que São Tomás não hesita em compará-lo ao ministério dos sacerdotes: ‘Alguns propagam e conservam a vida espiritual com um ministério unicamente espiritual: é a tarefa do Sacramento da ordem; outros fazem-no quanto à vida corporal e espiritual o que se realiza com o Sacramento do matrimônio, que une o homem e a mulher para que tenham descendência e a eduquem para o culto de Deus'". [1]
É no lar, e somente ali, que se podem desenvolver "alguns valores fundamentais que são imprescindíveis para formar cidadãos livres, honestos e responsáveis, por exemplo, a verdade, a justiça, a solidariedade, a ajuda ao débil, o amor aos outros por si mesmos, a tolerância, etc."
De pouco adiantará os governos se preocuparem em desenvolver o ensino, dotarem as escolas de equipamentos sofisticados e caros e investir na formação de professores, sem antes procurar fortalecer a instituição da família. Difícil será, sem a ajuda dela, combater a criminalidade, a corrupção e tantas outras mazelas.
A superação de todos os problemas da sociedade moderna - seja no nível psicológico, seja no social ou político - está condicionada, como vimos, à revitalização da sua célula básica: a família.
Porém, todos os esforços e as iniciativas humanas por fazer reflorescer esta instituição serão insuficientes sem que as bênçãos e a Graça de Deus se pousem sobre ela.
Só com a ajuda de Graças intimamente ligadas ao Sacramento do Matrimônio, a família poderá cumprir sua importante missão nesta Terra e preparar para o Céu as almas daqueles que a compõem.
Assim lembrou o Papa Bento XVI na clausura do V Encontro, celebrado em Valência, Espanha: "A família cristã - pai, mãe, filhos - está chamada a cumprir os objetivos assinalados não como algo imposto de fora, mas como um dom da graça do Sacramento do matrimônio infundida nos esposos. Se eles permanecerem abertos ao Espírito e pedirem a sua ajuda, Ele não deixará de lhes comunicar o amor de Deus Pai manifestado e encarnado em Cristo. A presença do Espírito ajudará os esposos a não perder de vista a fonte e medida do seu amor e entrega, e a colaborar com Ele para o refletir e encarnar em todas as dimensões da sua vida. Desta forma, o Espírito suscitará neles o anseio do encontro definitivo com Cristo na casa de seu Pai e nosso Pai". [2]
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[1] João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio, n. 38.
[2] Bento XVI, homilia por ocasião do encerramento do V Encontro Mundial das Famílias, 9/7/2006.
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Por Pe. Mariano Antonio Legeren, EP