Em uma sociedade voltada para a
busca do prazer, o casal cristão deve ficar atento para não cair numa espécie
de hedonismo a dois
Se lendo este título: “Existe um jeito
cristão de fazer amor?” você espera que eu indique uma lista de posições
sexuais possíveis para um cristão, uma espécie de kama
sutra bíblico,
pode parar a leitura deste texto agora! Em algumas linhas, gostaria
simplesmente de apresentar alguns pontos que me parecem fundamentais sobre a
sexualidade, para que possa vivê-la da maneira mais bela possível.
Para começar, não preciso dizer que a
pornografia invadiu nossos lares e está deturpando nossa visão sobre o valor do
corpo e da sexualidade. Em tais imagens, nossos corpos são apresentados como
meros instrumentos de prazer e muitos casais são destruídos por isto: eu me
aproximo de meu cônjuge pelo prazer que pode me dar e não pelo que ele é. Além
disso, o virtual toma o lugar do real: no virtual, tudo é possível o tempo todo
e em qualquer lugar. No real não é bem assim – diante de mim existe uma pessoa
com seu ritmo próprio que precisa, antes de tudo, ser amada e respeitada.
Fazer amor?
Cristãos batizados, lembrem-se que somos
“templos do Espírito” (1 Co
6,19)! Esse versículo de São Paulo deve servir de base para responder à
pergunta: “existe um modo cristão de fazer amor”? Aliás, a expressão “fazer
amor” é um tanto quanto estranha. O verbo fazer é sinônimo de produzir (fazer
almoço, fazer prova…); enquanto que o ato sexual é de outra ordem, ele
está ligado à nossa essência, pois, uma relação sexual envolve todo o nosso
ser: reduzi-la à genitalidade,
àquilo que podemos fazer com nossos órgãos sexuais significa subestimar e
rebaixar a beleza da sexualidade.
A Bíblia nos diz que Deus nos fez “homem
e mulher” e que Ele nos deu uma ordem: “crescei-vos e multiplicai-vos” (cf. Gn
1,27-28). Entendemos assim que, a sexualidade é bela e que ela é uma
participação à Sua obra criadora (Evangelium Vitae §43). Constato que muitos casais
cristãos se sentem desamparados neste mundo tão egoísta e hedonista1.
Não sejamos hipócritas: há alguns anos,
imagens e vídeos pornográficos estavam escondidos no fundo de um armário
qualquer. Hoje, qualquer criança tem acesso a tais imagens no smartphone dado
de presente pelos pais, e crescemos com uma ideia pervertida da sexualidade.
Além disso, muitos programas e sites ensinam que, em se tratando de sexo,
podemos e devemos tentar de tudo, que o importante é ser feliz. Mas tudo mesmo?
E que felicidade é essa? Não confundamos prazer com felicidade!
Há um grande perigo quando buscamos
orgasmos, sensações e prazeres [genitais] cada vez mais exóticos, intensos e
estranhos sem nenhum amor ou respeito à dignidade humana, ao corpo, à higiene e
à saúde. Penso que esses pontos devem fazer parte dos critérios a serem levados
em conta pelo cristão no que diz respeito a uma relação sexual sadia e
respeitosa.
Prazer partilhado
No ato sexual é fundamental que cada um
queira e responda às expectativas e desejos do outro; que o prazer seja algo
partilhado, a serviço da vida e da unidade do casal, o que exclui toda forma de
prazer egoísta, feminismos e machismos. O prazer mais intenso e duradouro é
aquele que se vive no amor e no respeito do tempo e dos limites do cônjuge.
Um pequeno conselho: numa sociedade
voltada para a busca (prioritária ou exclusiva) do prazer, o casal cristão deve
ficar atento para não cair numa espécie de hedonismo a dois, em que cada um se
serve do outro para seu próprio prazer, dando demasiada importância ao prazer
sexual e deixando de lado outros aspectos importantes da vida matrimonial, tais
como o diálogo, a oração ou o cuidado e o carinho mútuos.
5 passagens bíblicas para sua
meditação pessoal:
– “Deus criou o homem à Sua imagem;
criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os abençoou:
Frutificai – disse Ele – e multiplicai-vos”(Gn 1,27-28);
– “Ah! Beija-me com os beijos de tua
boca! Porque os teus amores são mais deliciosos que o vinho, e suave é a
fragrância de teus perfumes” (Ct 1,2-3);
– “Ou não sabeis que o vosso corpo é
templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que,
por isso mesmo, já não vos pertenceis? Porque fostes comprados por um grande
preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo” (I Cor 6,19-20);
– “A caridade é paciente, a caridade é
bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem
escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda
rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo
desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (I Cor 13,4-7);
– “É para que sejamos homens livres que
Cristo nos libertou. Ficai, portanto, firmes; e não vos submetais outra vez ao
jugo da escravidão” (Gl
5,1).
Não podemos esquecer ainda do que nos diz São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios, no capítulo 6, versículo 12: "Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém." E, no versículo 18: "Fujam
da imoralidade sexual. Todos os outros pecados que alguém comete, fora do corpo
os comete; mas quem peca sexualmente, peca contra o seu próprio corpo."
Por Padre André Favoretti,
via
Canção Nova
Fonte: Aleteia